quinta-feira, 8 de julho de 2010

O que me forma?

Sou vaidoso.
Acho justo procurar manter um pingo de cuidado consigo mesmo, mas das coisas que mais me fascinam, certamente as mais interessantes são as possíveis transformações de meu corpo.
Já analisei bastante minhas fotografias de quando novo. Sorte minha ter nascido na era da fotografia colorida, pois toda estranheza de minhas formas anteriores pude contemplar.
Tive cabelos vermelhos apenas no topo da cabeça, pele clara e ausente de pelos, quase que nenhum sinal pelo corpo e vários outros detalhes que uma criança poderia ter de peculiar em si.
Hoje, com meus 182 centímetros de altura, tenho pelos por todo o corpo, vários sinais, ficando calvo no topo da cabeça, cabelos (os que ficaram) pretos e inúmeras variações de peso ao longo de minha juventude.
É muito legal ver as estrias que apareceram em minhas coxas e as rugas de minha testa. Também as rugas dos meus olhos que, ainda discretas, são muito engraçadas.
De certo que elas, as mudanças, não vão parar.
Logo estarei de cabelos brancos, se eles se mantiverem em minha cabeça, surdo, cego, dolorido...
Não me incomodo.
Na verdade, dou graças a Deus pelo favor imerecido da vida e pela vivência obtida ao longo do tempo. Também pela graça de ter a ciência de que as coisas são passageiras... a vida é passageira.

Acho que é assim que sou. Isso que me forma.
O único desejo profundo de mudança que tenho neste momento e poder tirar definitivamente minha barba. Não por vaidade, mas por puro comodismo.
Admiro cada parte do meu corpo. Não tenho desejos de nenhuma mudança drástica.

Agora, toda essa admiração quanto as possibilidades de mudança de meu corpo me fazem perguntar o porque da busca incansável e eterna pela beleza e o que faz com que as pessoas se machuquem tanto em mesas de cirurgia nunca estando satisfeitas com os resultados não naturais de seus corpos. Não vejo nada mais belo que aquilo que acontece naturalmente com cada um. Acho digno saber envelhecer. Nada mais belo e honrado que envelhecer com dignidade.

Para os naturalistas, digo que nada mais natural que saber apreciar a mudança de si mesmo;
Para os narcisistas, digo que lamento por não poder ajudar a reconhecer a beleza do passar do tempo;
Para os religiosos, digo que nada mais louvável que admitir que é uma dádiva divina o reconhecimento da "decadência humana" ou do amadurecer da humildade;
Para os preocupados com a morte, só lamento.

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